29 de dez. de 2016

Música e Geopolítica no Eurovision 2016



Eu adoro observar de longe algumas tretas sobre geopolítica internacional, e por incrível que pareça, toda treta que ouvi falar em 2016 estava envolvendo a Rússia de forma direta ou indireta.
A que irei falar neste texto é sobre a treta que rolou em uma das maiores competições musicais do mundo, o Eurovision, que é uma espécie de Eurocopa da música, no qual cada país europeu e convidados de outros continentes pode enviar todos os anos um artista para interpretar uma canção. Cada país recebe pontos para distribuir entre os demais concorrentes.
É claro que este modelo de pontuação deixa em evidência uma série de relações políticas e sociais entre os países, que muitas vezes preferem atribuir o maior número de pontos aos países que têm mais afinidades, porém esse é o menor dos problemas o Eurovision causam.


No ano de 2016 a canção vencedora foi 1944 interpretada pela cantora Jamala, que competiu representando a Ucrânia. Sua canção atrás a tona um sentimento de revolta do povo Tártaro da Crimeia em relação à deportação dos tártaros da Crimeia para República Socialista Soviética do Uzbequistão a mando de Joseph Stalin sob o pretexto de uma suposta colaboração com os nazistas. Jamala se inspirou na história da sua bisavó, que tinha vinte anos quando foi deportada para a Ásia Central com seus quatro filhos. Enquanto isso, o seu bisavô estava lutando na Segunda Guerra Mundial ao lado do Exército Vermelho e por isso não pode proteger sua família.
Embora confirmada a relação de algumas pessoas com os nazistas, todo um grupo étnico foi punido. É estimado que 45% dos tártaros da Crimeia deportados morreram de fome e doenças no processo de deportação, além de muitos terem sidos levados a trabalhar nos campos de trabalhos forçados, conhecidos como Gulag.
A música faz uma descrição de como agiam os soldados soviéticos, observamos que  logo nos primeiros versos ela diz: "quando estranhos estão chegando, eles vêm para a sua casa, eles matar todos vocês". No entanto, o ponto máximo da música é o refrão cantado em tártaro da Crimeia dizendo: "Não pude passar a minha juventude aqui, porque roubaram a minha paz".
Uma música forte e histórica, porém ao ver o vídeo da apresentação da cantora no programa você percebe uma série de comentários negativos, em sua maioria de russos que se sentiram ofendidos de alguma forma pela canção.
A entrada da canção na competição também gerou uma série conflitos com o parlamento russo, que alegava que o objetivo da Ucrânia selecionar Jamala para competição foi de ofender a Rússia pelo descontentamento com a anexação da Crimeia pela Federação Russa em 2014. Não obstante, a União Europeia de Radiofusão aceitou canção, pois nem o título nem a letra tinham uma conotação política direta, mas toda a Europa ficou consciente sobre o triste evento ocorrido em 1944.

Jamala certamente não era a voz mais contundente da competição, porém a competição é de canções, e 1944 não tinha o objetivo de entreter a multidão, mas sim de levar uma mensagem através da arte.



LINKS DE REFERÊNCIA

http://www.eurovision.tv/page/news?id=ukraine_wins_2016_eurovision_song_contest

https://www.theguardian.com/world/2016/feb/11/crimean-singer-in-line-to-represent-ukraine-at-eurovision

http://www.bbc.com/news/entertainment-arts-35630395

http://www.calendarintercultural.ro/agenda.php?detalii=5105&eventdate=1368824400

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