Eu
adoro observar de longe algumas tretas sobre geopolítica internacional, e por
incrível que pareça, toda treta que ouvi falar em 2016 estava envolvendo a
Rússia de forma direta ou indireta.
A
que irei falar neste texto é sobre a treta que rolou em uma das maiores
competições musicais do mundo, o Eurovision, que é uma espécie de Eurocopa da
música, no qual cada país europeu e convidados de outros continentes pode
enviar todos os anos um artista para interpretar uma canção. Cada país recebe
pontos para distribuir entre os demais concorrentes.
É
claro que este modelo de pontuação deixa em evidência uma série de relações
políticas e sociais entre os países, que muitas vezes preferem atribuir o maior
número de pontos aos países que têm mais afinidades, porém esse é o menor dos
problemas o Eurovision
causam.
No
ano de 2016 a canção vencedora foi 1944 interpretada pela cantora Jamala, que
competiu representando a Ucrânia. Sua canção atrás a tona um sentimento de
revolta do povo Tártaro da Crimeia em relação à deportação dos tártaros da
Crimeia para República Socialista Soviética do Uzbequistão a mando de Joseph
Stalin sob o pretexto de uma suposta colaboração com os nazistas. Jamala se
inspirou na história da sua bisavó, que tinha vinte anos quando foi deportada
para a Ásia Central com seus quatro filhos. Enquanto isso, o seu bisavô estava
lutando na Segunda Guerra Mundial ao lado do Exército Vermelho e por isso não
pode proteger sua família.
Embora
confirmada a relação de algumas pessoas com os nazistas, todo um grupo étnico
foi punido. É estimado que 45% dos tártaros da Crimeia deportados morreram de
fome e doenças no processo de deportação, além de muitos terem sidos levados a
trabalhar nos campos de trabalhos forçados, conhecidos como Gulag.
A
música faz uma descrição de como agiam os soldados soviéticos, observamos
que logo nos primeiros versos ela diz:
"quando estranhos estão chegando, eles vêm para a sua casa, eles matar
todos vocês". No entanto, o ponto máximo da música é o refrão cantado em
tártaro da Crimeia dizendo: "Não pude passar a minha juventude aqui,
porque roubaram a minha paz".
Uma
música forte e histórica, porém ao ver o vídeo da apresentação da cantora no
programa você percebe uma série de comentários negativos, em sua maioria de
russos que se sentiram ofendidos de alguma forma pela canção.
A
entrada da canção na competição também gerou uma série conflitos com o
parlamento russo, que alegava que o objetivo da Ucrânia selecionar Jamala para
competição foi de ofender a Rússia pelo descontentamento com a anexação da
Crimeia pela Federação Russa em 2014. Não obstante, a União Europeia de Radiofusão
aceitou canção, pois nem o título nem a letra tinham uma conotação política
direta, mas toda a Europa ficou consciente sobre o triste evento ocorrido em
1944.
Jamala
certamente não era a voz mais contundente da competição, porém a competição é
de canções, e 1944 não tinha o objetivo de entreter a multidão, mas sim de
levar uma mensagem através da arte.
LINKS DE REFERÊNCIA
http://www.eurovision.tv/page/news?id=ukraine_wins_2016_eurovision_song_contest
https://www.theguardian.com/world/2016/feb/11/crimean-singer-in-line-to-represent-ukraine-at-eurovision
http://www.bbc.com/news/entertainment-arts-35630395
http://www.calendarintercultural.ro/agenda.php?detalii=5105&eventdate=1368824400
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